Falta de companheirismo afeta saúde mental das mulheres


 




Por: Célia Rangel e Meyri Gomes 

“Sou casada há dois anos. Tenho uma vida profissional intensa. Eu e meu marido somos escriturários de um banco e cumprimos carga horária exigente. Além disso, existem as tarefas domésticas que cobram demais de nós. Porém, conseguimos conciliar sem estresse porque nos ajudamos. A participação dele nos afazeres de casa torna a rotina mais leve. Essa relação de parceria foi estabelecida antes do casamento. Eu sempre me posicionei de forma incisiva no que se refere ao meu entendimento acerca de companheirismo. E esse modo de viver também já foi planejado para   quando nos tornarmos pais”, ressaltou Nair Lisboa. 

A experiência relatada pela escriturária Nair remete a reflexões e avaliações sobre os modelos de relacionamentos. Você se encaixa no perfil acima destacado? Ou sua rotina envolve um esposo egoísta, machista, que ronca no sofá enquanto você está atolada nos serviços? E até que ponto você está alimentando esse comportamento?  

Já Fernanda Arantes, economista e professora, relatou uma realidade bem diferente da apresentada no início da matéria. “Meu marido é do tipo filho caçula, acostumado a receber tudo pronto da mãe. Ele não me ajuda.  Se minha vida era sobrecarregada, agora é mais ainda. Tem dias que chega para almoçar e não dei conta de fazer a comida porque tenho muito trabalho: organizar a casa, passar a roupa acumulada, cuidar do bebê, além disso, trabalho home office. E, para piorar, a pandemia complicou o que já estava difícil. Sinto-me esgotada física e emocionalmente e nossa intimidade está afetada, pois há dificuldade de encontrar tempo para nós dois”, desabafou.  

A situação vivida por Fernanda retrata   bem o contexto de muitas    mulheres que, além de dar conta da vida profissional, têm que enfrentar a dinâmica cansativa de cuidar da casa e dos filhos e conviver com a falta de participação do marido no que diz respeito à divisão dos quefazeres. Menos da metade deles dedicam-se às tarefas domésticas, conforme dados apontados em levantamento realizado em 2020 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que revelam a média de horas dedicadas às tarefas domésticas por parte dos homens: 11,2 horas por semana, enquanto que as mulheres fazem a maior parte correspondendo a 27,7 horas. A pesquisa revelou ainda que o trabalho mais pesado (cozinhar ou limpar a casa) sobra para as mulheres. 

Durante a gravidez e após o nascimento dos filhos  

Nova realidade que exige mais comprometimento do marido. A respeito desse assunto, o Oh, que saúde! ouviu Renata Toscano, psicóloga, que traz reflexões importantes.

 “O companheirismo não se desenvolve de um dia para outro. Não é assim que acontece. E, com relação à gravidez e à chegada dos filhos, esses acontecimentos não vão tornar seu esposo um companheiro. Geralmente, a rotina de uma mãe gira em torno de muitos afazeres e é comum entrar em modo automático e, pela força do hábito, viver o mesmo dia todos os dias. A primeira dica é fazer uma autoanálise das atividades que executa para saber a que deixa mais cansada, o que faz perder muito tempo, o que não está lhe fazendo bem e modificar a rotina”, destacou. 

Psicóloga Renata Toscano
Renata também chama a atenção para outro ponto: não se comparar às outras mães. Ela lembra que essa história de que todas as mães são iguais não é verdade, cada mãe é única. A psicóloga reforça que cada uma tem suas histórias, necessidades, pontos fortes e fracos. Salientou que o companheirismo na gravidez é fundamental, pois é o momento em que a mulher mais precisa de apoio, de atenção e que, nessa fase, irão acontecer mudanças no corpo e na rotina. “Ela precisa sentir-se amparada, cuidada. Quando isso não acontece, por mais forte que seja emocionalmente, há uma fragilidade que lhe dará margens para um possível adoecimento. Diálogo é tudo e deve acontecer sempre de modo assertivo para que o outro, de forma empática, sinta-se tocado a ser ativo nesse processo do qual faz parte”, acrescentou. 

Não se quebre 

“Desde criança, via minha mãe sobrecarregada com as ocupações domésticas. Ela cozinhava, passava e lavava roupa, limpava a casa e cuidava de mim e do meu irmão. E ainda trabalhava fora. Ufa!!! Não sei como aguentava. Muitas vezes a via chorar. Enquanto isso, meu pai se balançava em uma rede, indiferente ao que estava acontecendo. Aquele cenário começou a me incomodar, despertando questionamentos do tipo: por que tem que ser assim? Por que somente ela tem que fazer tantas tarefas e tão pesadas?, relatou Antônia de Castro, secretária. 

Antônia continuou sua história. Contou que o nível de estresse da sua mãe chegou a tal ponto que um dia pegou a louça suja que estava acumulada na pia e levou para o quintal da nossa casa e quebrou tudo. “Foi pedaço pra todo lado. Naquele momento, minha mãe também quebrou-se. Ficamos perplexos. Meu pai levantou-se da rede rápido como um foguete. Lembro dele recolhendo os cacos.  Depois desse episódio, as coisas começaram a mudar. Ele passou a participar da vida doméstica”, lembrou sorrindo. 

Momento de procurar ajuda profissional 

Os especialistas da área de psicologia alertam que, o esgotamento físico e emocional provocado pela desigual distribuição dos cuidados com a casa, podem levar a mulher a desenvolver ansiedade, angústia e estresse em níveis insuportáveis e que não espere chegar nesse ponto para procurar ajuda profissional.  

Outro caso para refletir é o de Blenda Douetts, empreendedora e corretora de imóveis. Ela é mãe solteira e tem um filho de quase dois anos. 

“Apesar de ter uma família grande, minha rede de apoio foi bem curta (apenas três pessoas) e nenhuma delas era o pai. O desgaste foi tanto que tive depressão pós-parto, não diagnosticada antes por não ter tido tempo. Eu percebi que tinha algo errado quando tudo (literalmente tudo) irritava-me. Por qualquer coisa chorava, sentia vontade de gritar com alguém e, às vezes, gritava”, relembrou. 

Blenda contou que suas reações a levaram a reconhecer que precisava de ajuda profissional, o que a fez mudar muito. Ressalta que hoje sua mente consegue se organizar mais, entende que precisa de um tempo para si, que não tem vergonha disso e que não é menos mãe porque se cuida.  Ela alerta: “Não se deixe esgotar, ao menor sinal, procure ajuda”, frisou. 

Blenda Douetts

O Oh que saúde espera que este conteúdo acrescente algo positivo à sua vida, e agradece ás mães que ajudaram a construir esta matéria. Se gostou, interaja. Sua participação é importante. 

Fonte: 

IBGE  

 


...


Um comentário:

  1. Como gostei da reportagem do ohque saude. É isso quetem acontecido . Hoje vejo meus filhos ajudando as mulheres, às vezes , que bom!, são elas que estão sentadas e eles na cozinha. Meu marido demorou um tanto a entrar nessa. Hoje fazemos tudo juntos.

    ResponderExcluir