Por: Célia Rangel e Meyri Gomes
“Ao me olhar no espelho, percebi a formação de um pequeno gânglio, próximo à clavícula, do lado direito, que me chamou a atenção. Porém, não sentia dores, nem febre ou qualquer outro sintoma, mesmo assim, decidi solicitar a realização de ultrassonografia. Durante o exame, o médico encontrou mais gânglios e já me encaminhou para um especialista em cabeça e pescoço, que requisitou exames complementares como Raio X, no qual ficou visível o câncer. Perplexidade foi a minha reação. Achei que aquilo não estava acontecendo comigo”, esse é o relato de Dayse Avelino ao descobri o linfoma no estágio IV, com comprometimento no pulmão, e já com metástase.
Nessa situação, qual seria sua reação? Difícil de prever, pois cada um tem uma estrutura psico-emocional e espiritual diferente. Porém, certamente uma notícia dessa provocaria grande impacto na vida de qualquer pessoa, imagine na de uma jovem com apenas 24 anos. Mas essa história nos surpreende quando, diante do seu maior desafio -vencer o câncer- ela ressignifica sua experiência e transforma a dor em esperança e vitórias diárias.

A trajetória de Dayse e o modo como decidiu reagir chamaram a atenção do Oh, que saúde!, que entendeu ser importante compartilhar essa vivência com vocês, nossos leitores, porque acreditamos que, de alguma forma, contribuirá para ajudar pessoas que estão enfrentando situações semelhantes; por esta razão, preparamos esta entrevista. O nosso contato foi feito por meio de ligações telefônicas e videoconferência em respeito ao isolamento social por causa da pandemia, resguardando a nossa saúde e a da entrevistada, que passou por transplante de medula no último mês de julho. A entrevista foi articulada pela jornalista Célia Rangel.
CR - Bom dia, Dayse! Primeiramente, agradecemos por nos atender para falar sobre acontecimentos tão marcantes para você.
DA- Eu quem agradeço, Célia, e espero ajudar.
CR- Passado esse primeiro momento, após o resultado do exame, qual foi sua reação?
DA- Diante da gravidade do quadro, pensei na misericórdia de Deus. Foi ele quem permitiu eu ainda estar viva. E esta certeza me encheu de força para lutar. Desistir nunca foi uma opção!
CR: Fale sobre o tratamento.
DA: Antes de tudo, deixei claro para a minha mente que iria vencer. Mergulhei totalmente no tratamento com quimioterapia. Ao todo, foram seis protocolos diferentes, totalizando 62 aplicações, 20 sessões de radioterapia, infinitos exames de imagem e de sangue. Enfrentei muitos dias difíceis, passei por muita dor e sofrimento, mas nada disso foi maior que minha vontade de viver. Nos momentos mais complicados, durante as terríveis reações da quimioterapia, eu sempre pensava: vai passar, amanhã será um novo dia. E me agarrei ao que podia. Mantive minha FÉ e o pensamento positivo.
CR: Vencida essa fase, qual foi o passo seguinte?
DA: Seria o transplante autólogo - remoção das células-tronco da minha própria medula óssea. Quando me preparava para fazê-lo, descobri que estava grávida. Naquele momento, um misto de alegria e medo invadiu o meu ser. Pois, ao mesmo tempo em que vivia algo tão incrível, meu sonho da maternidade sendo realizado, me via também correndo o risco de não sobreviver para desfrutá-lo.
CR: E como seu corpo reagiu durante a gestação?
DA: Muitíssimo bem. Tive uma gravidez tranquila, só no oitavo mês, comecei a sentir sintomas da doença. Fiz uma nova biopsia e veio a confirmação de recidiva, o câncer estava novamente em atividade. Contudo, a equipe médica optou por esperar o nascimento da minha filha para iniciarmos o tratamento, já que eu precisava estar em remissão novamente para poder fazer o transplante.

CR: Como foi a chegada da sua filha?
DA: Laura chegou através de um parto sem intercorrências. Nasceu saudável, me trazendo muita luz e esperança, ressignificando minha jornada neste planeta. Ela é meu milagre.
CR: Depois do nascimento de Laura, o que aconteceu?
DA: Dei continuidade ao tratamento. Foram mais dois anos de luta até conseguir estabilizar a doença. Foi então que, em julho deste ano de 2020, aconteceu o tão sonhado transplante. E, depois de 28 dias, ocorreu a pega da medula. Essa confirmação foi um dos momentos mais fortes da minha vida. SUPEREI limites e ultrapassei barreiras. Tem sido um ano de desafios, mas também de vitórias! Para Deus, nada é impossível!
CR: Você acha que o câncer transmutou sua vida?

DA - Sim, e de uma forma inimaginável. Gosto sempre de pontuar que não há como mudar aquilo que aconteceu, mas pode-se modificar nosso modo de agir a partir de uma experiência tão impactante. O câncer me ensinou muito! Hoje, enxergo a vida com outros olhos. Não dou mais a mesma. Sou mais grata, mais forte... E o melhor, muito mais próxima de Deus!
O Oh, que saúde! agradece mais uma vez a Dayse pela receptividade e despreendimento em falar de um assunto tão forte em sua vida de uma maneira tão amadurecida.
Curiosidades
Linfoma – conjunto de cânceres que atacam o sistema linfático, principal sistema de defesa do organismo. Geralmente, o linfoma se manifesta com o aumento de gânglios (ínguas, caroços) em regiões bem pontuais como laterais do pescoço, clavículas, também nas axilas ou ainda virilhas.
Sintomas – além dos ligados ao aumento dos gânglios, estão perda de peso, fadiga, falta de ar ou tosse, entre outros.
Diagnóstico – a partir de exames: sangue, imagem e biópsia da medula óssea
Tratamento - quimioterapia, radioterapia e transplante de medula óssea.
Fontes:
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