Por: Célia Rangel e Meyri Gomes
“Há centrais para disseminar desinformação em relação ao coronavírus, para ajudar governos que não têm sido competentes no combate à pandemia e desvirtuar a atenção das pessoas para o que realmente interessa e para o que está sendo feito por gestores comprometidos com a vida. Existe uma quantidade significativa de notícias falsas sendo disseminada pelas redes sociais ou por aplicativos de mensagens, como o whatsapp”, ressalta Mabel Dias, jornalista, estudiosa de fake news, integrante do Coletivo Intervozes e mestranda do Programa de pós-graduação em Comunicação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
O crescimento e disseminação de conteúdos falsos induz não somente ao erro, mas também têm um efeito devastador, especialmente no que se refere ao momento difícil pelo qual passa o mundo inteiro por causa da Covid-19. “A situação que vivemos é tão grave que a Organização Mundial de Saúde (OMS), em 2020, classificou-a como infodemia, que é o excesso de informação circulando, o que torna difícil para as pessoas encontrarem fontes de informação confiáveis. Entre as fake news mais prejudiciais que circularam estão a do estímulo por parte de governantes da ingestão de desinfetantes para combater a doença e o uso do “kit covid”, um mix de medicamentos sem comprovação cientifica, e que têm causado a morte ou deixado sequelas graves”, frisa Mabel.
Outro conteúdo falso e perigoso relacionado à pandemia diz respeito à vacina. A falta de limites disseminou a “informação” que, durante a administração do imunizante, poderia ser inserido um microchip com o objetivo de colher a identidade biométrica. Destaca-se ainda o relacionado aos termômetros infravermelhos, usados em supermercados. A desinformação dizia que comprometeriam o cérebro.
O cuidado com a checagem da informação é muito importante. Nesse sentido, a jornalista reporta-se a iniciativas como o grupo de whatsapp, composto por profissionais de comunicação da Paraíba, e que checam desinformação, auxiliando a população a se prevenir corretamente. Ela aponta também outras iniciativas importantes de checagem como o site Corona vírus em xeque, desenvolvido pelo programa de pós graduação em comunicação da UFPE ( https://sites.ufpe.br/rpf/coronavirus-em-xeque/).
O que está por trás dessas mensagens falsas?
“ É a intenção de confundir as pessoas, de criar narrativas que manipulam a opinião pública, principalmente por governos populistas e antidemocráticos. Há interesses político e econômico envolvidos na disseminação de desinformação. Como disse anteriormente, há centrais montadas para divulgar conteúdo falso nas redes sociais. Algumas muito bem elaborados. Investigações da Policia Federal já provaram a existência de “gabinetes do ódio”, que atuam para atacar desafetos políticos do presidente do Brasil. A jornalista Patricia Campos Melo, da Folha de São Paulo, em reportagem publicada em 2018, mostrou bem como tudo isso começou no Brasil. O autor Giuliano da Empoli, em seu livro “Engenheiros do caos”, mostra como essas centrais do ódio da desinformação se formaram no mundo todo. Aliadas a isso, temos as plataformas digitais, que buscam apenas o lucro e não se preocupam com esse ecossistema que foi criado. Existe uma monetização da desinformação”, esclarece a jornalista Mabel Dias.
Como o usuário de internet pode se “blindar”? Veja algumas orientações da especialista
- · Checar o que chega até você. Primeiro, olhar em qual site foi publicada a matéria;
- · Certificar-se se algum jornalista assina a matéria. É importante também prestar atenção à data e se o site tem o expediente (nome da equipe que o fez);
- Se receber foto ou vídeo, existem aplicativos que ajudam a verificar a veracidade da informação neles contida. Há agências de checagem, como Lupa, Aos Fatos e Comprova que podem ajudar o leitor, internauta ou ouvinte.
Outras iniciativas
Aqui, em João Pessoa, existe um grupo de jornalistas criado por Meyri Gomes, em 2020, que arrebatou Carla Cristina, Priscila Andrade, Wanderson Fernandes e Geovana Teixeira que abraçaram a iniciativa. O grupo já reúne mais de 80 profissionais da comunicação e, no último mês de março, completou um ano de atuação. “Trata-se de um trabalho voluntário, envolvendo profissionais comprometidos com a verdade, este é o nosso papel social”, declara Meyri Gomes.
Fake news: termo antigo
A expressão fake news (notícias falsas) tem origem na língua inglesa e não é recente, seu uso remete ao final do século XIX. Porém, sua popularização deve-se às redes sociais.
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